quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Última de Alcochete: Rouxinol memorável em noite de magia de Hermoso com toiros de verdade de Varela Crujo

Luis Rouxinol: actuação memorável no quarto toiro da corrida, depois de ter
sofrido um verdadeiro "aperto" e um forte encontrão contra as tábuas (fotos
de cima) no primeiro, em que alternou o bom com o menos bom. No quarto,
encastou-se e a praça veio abaixo com uma lide absolutamente triunfal
Pablo Hermoso: duas lides mágicas com o valor acrescido de ter tido pela frente
toiros duros e de verdade da ganadaria Varela Crujo, confirmando que pode com
todos e qualquer um!
Grande e importante actuação de João Telles no terceiro toiro
da noite (primeiras fotos de cima). No último, não esteve nos
seus melhores dias...
Pablo Hermoso com Maria Policarpo, presidente da Banda de Alcochete, que ao
intervalo o brindou com um pasodoble feito em sua honra e que o rejoneador
retribuiu e agradeceu dedicando aos músicos a sua segunda lide


Miguel Alvarenga - Um triunfo a todos os títulos memorável de um encastado Luis Rouxinol no quarto toiro da noite e duas lides de magia de Pablo Hermoso de Mendoza a provar que também pode com toiros duros e sérios foram as notas dominantes da corrida de praça cheia (até às bandeiras!) que ontem encerrou mais uma grande Feira do Toiro-Toiro em Alcochete - que constituiu, no seu todo, um sucesso, a aplaudir, do empresário António Manuel Cardoso “Nené”, pela seriedade dos toiros apresentados, pela boa e bem rematada composição de todos os cartéis e pelos êxitos artísticos que ali se verificaram.
Nota alta, ontem, para a emoção e a seriedade dos toiros da ganadaria de Herdeiros de Varela Crujo, gerida por António Manuel Crujo que, à semelhança do que (não) aconteceu na véspera com Sommer d’Andrade, também não entendi as razões por que não foi aclamado na arena pelo público. Merecia.
Noite de glória para os últimos românticos da Festa, os Forcados dos grupos de Vila Franca e de Alcochete, que executaram seis imponentes pegas a toiros que pediam contas a homens de barba rija, toiros daqueles que mandariam para casa muitos dos grupelhos que por aí pululam. Mas estes eram (são) grupos a sério e por isso a noite foi grande, enorme!
A corrida decorreu em ritmo louvável, bem dirigida por Tiago Tavares, assessorado pelo médico veterinário Dr. Luis da Cruz, havendo ainda a destacar o brilhante labor dos campinos que recolheram os toiros a cavalo e foram no último toiro premiados com justíssima volta à arena.

Casta, valor e arte: Rouxinol 
em grande!

Luis Rouxinol alternou momentos bons com outros piores numa lide ao primeiro toiro da corrida marcada por alguma irregularidade e que motivou o cavaleiro no fim a recusar a volta à arena. Sofreu um forte encontrão contra as tábuas e as coisas não lhe correram totalmente de feição nesse primeiro toiro, áspero, duro, de arreões e que fez Rouxinol passar um pouco as passas do Algarve… Toiros destes fazem falta nas nossas arenas.
No quarto da ordem, de excelente nota, que se arrancava com alegria vibrante de todos os terrenos e também era exigente e emotivo, Luis Rouxinol não quis que o êxito maior da noite se ficasse pela magia de Pablo Hermoso e encastou-se que nem um leão, puxando dos seus galões e alcançando um triunfo notável e de contornos importantes, reafirmando os porquês de ter chegado onde chegou em trinta anos de glória e de luta em todas as tardes.
É um grande Toureiro. Porfiou, com denotada entrega, alcançando o que queria, e o público exigia, diante de um toiro que não permitia deslizes. Lide brilhante, ousada, de grande verdade e muita maestria, que rematou, sem ser preciso, com um grande par de bandarilhas. O êxito já ele o tinha na mão, o par foi, apenas e só, o seu gesto de reafirmar a grandeza e o elevado profissionalismo que lha vão na alma. Toureiro de muita alma, é isso mesmo o que ele é.

Pablo Hermoso galvaniza com toiros de verdade!

Ao contrário do que muitos o acusam, a ele e a outros, Pablo Hermoso de Mendoza não foi ontem a Alcochete com a vida facilitada e com os habituais toiros Murube com que tão bem desenha as suas lides de magia e arte. Vê-lo com os duros e exigentes toiros de Varela Crujo teve outro sabor e confirmou a momento de enorme esplendor em que se encontra. Pablo tem arte de sobra e cavalos que cheguem para enfrentar quaisquer toiros e ontem reafirmou-se indiscutivelmente como o número um do rejoneio.
O público de Alcochete estava frio, mas Pablo Hermoso aqueceu-o com os seus recortes, a sua brega, essa magia de ladear “na sua mão e mesmo em contramão”, fazendo parecer o difícil fácil, empolgando, galvanizando, chegando às bancadas com um sorriso simples e tranquilo, como se tudo aquilo fosse a coisa mais simples do mundo.
Lide fantástica no seu primeiro toiro, brilhante no segundo (o sobrero, por o seu primeiro ter saído diminuído à praça e ter sido recolhido), abrindo o livro, bordando o toureio, fazendo exactamente o mesmo que faz com os Murubes, mas desta vez com o valor acrescido de ter tido pela frente, e até que enfim, toiros que exigem, que emocionam, que fazem parar corações e que dão à Festa aquele toque de risco e de verdade que tanta falta lhe faz para manter viva a sua essência e a sua primordial razão de ser e de existir e de permanecer como tradição cultural dos povos que a sentem como arte. Memorável Hermoso!

Telles em noite assim-assim...

João Ribeiro Telles, a cumprir uma temporada de grandes triunfos em praças cheias, não teve ontem, infelizmente, uma noite de fulgor como se esperava e se impunha numa corrida de tanta importância como esta.
O seu primeiro toiro, aparentemente bravo, mas que cedo procurou o refúgio nas tábuas, deu água pela barba ao cavaleiro da Torrinha, que o lidou com maestria e cabeça fresca, arriscando barbaridades em terrenos de compromisso, resolvendo as dificuldades com sortes a sesgo onde pôs a carne no assador, confirmando as suas grandes qualidades de lidador.  Uma actuação importante e a confirmar um João Telles de valor.
No último, um bom toiro que João Telles não entendeu e com o qual podia ter tido uma lide brilhante, houve altos e baixos. Optou erradamente pelos “quiebros”, que abriu sempre demais e os ferros resultaram quase todos “pescados”. No fim, falhou um “violino” e voltou a falhar quando, já sem opção, decidiu cravá-lo à meia volta. O público esfriou e Telles não deu volta à arena.

Pais de Antono devolvem troféu ao Grupo de Alcochete

Sobre as pegas já aqui disse e mostrei tudo. Volto a destacar a noite de glória dos valentes Forcados de Vila Franca e de Alcochete. Que estiveram enormes!
No quarto toiro, ao final da lide, desceram à arena o pai e a irmão do saudoso forcado Helder Antono, morto por um toiro naquela praça, para devolver ao Grupo de Alcochete um troféu recebido em vida por ele. Um momento emotivo de que o público só se apercebeu quando foi explicado ao microfone no final da lide do toiro que se seguiu.
Ao intervalo, Pablo Hermoso de Mendoza foi brindado com um pasodoble em sua honra pela Banda de Alcochete, recebendo a partitura das mãos de Maria Policarpo, presidente da mesma. Pablo agradeceu depois essa honraria brindando a sua segunda lide à Banda de Alcochete.
Fechou-se com chave de ouro a Feira do Toiro-Toiro, que um ano mais marcou esta temporada e reafirmou o veterano António Manuel Cardoso “Nené” como um dos últimos grandes e sérios empresários tauromáquicos deste país. Já não há muitos…

Fotos Carlos Silva