segunda-feira, 16 de abril de 2018

João Moura Júnior: "Ainda falta muito para me sentir realizado!"

"Hoje em dia acho que tenho o meu cunho pessoal e já não me referenciam
só como o filho de João Moura!"
. Em baixo, o cavaleiro com Miguel Alvarenga


Depois do rotundo triunfo na abertura da temporada do Campo Pequeno, João Moura Júnior vai defrontar João Moura Caetano e Francisco Palha no próximo dia 25 em Alter e a 12 de Maio regressa a Madrid, a praça que "tudo dá e tudo tira". Após cinco anos apoderado por Rui Bento, tem agora como manager o seu primo Benito, a reedição de um apoderamento familiar como aquele que há uns anos uniu seu pai e seu tio, o pai de Benito. Sem papas na língua, João confessa-se ao "Farpas". Acusa alguns empresários e certos críticos de estarem a "minar a Festa" e a fazer-lhe mais mal que os "anti". Considera Rui Bento o melhor dos empresários e diz que o pior... "há para aí vários". Assume que ainda não chegou aos calcanhares de seu pai e diz que gostava de tourear um mano-a-mano com Pablo Hermoso. Se é o melhor dos novos cavaleiros? Primeiro, diz que não lhe compete a ele responder, mas depois admite: "Sou um dos melhores faço por isso todos os dias!". João Moura Jr. por ele próprio.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- 2018 marca um virar de página, depois de cinco anos apoderado por Rui Bento. Tem agora como manager o seu primo Benito, uma espécie de reedição do que se passou em tempos com seu pai, quando era apoderado por seu saudoso irmão, pai do Benito. Um “apoderamento familiar”. Porque terminou a relação profissional com Rui Bento e que expectativas para a nova?
- A relação com Rui Bento foi uma decisão por mútuo acordo, não quero prolongar muito este tema porque ao Rui Bento só tenho coisas a agradecer, aliás foi o meu melhor apoderado até o dia de hoje e vai ser complicado alguém ultrapassar o que o Rui significou na minha carreira profissional. As expectativas são muitas, o Bini está a fazer o seu melhor, pois a temporada está quase preenchida, em que vou marcar presença nas principais praças e nos melhores cartéis. Certamente sei que o meu tio estará orgulhoso de nos ver assim, a história repete-se e por isso sinto-me muito feliz e realizado comigo por ter o Bini como meu apoderado e pessoa de máxima confiança.
- É um facto que os novos cavaleiros não levam público às praças como levavam os seus pais, mas Lisboa encheu na abertura da temporada com um cartel de novos valores. Terá sido um sinal de mudança? 
- Não estou de acordo com isso, pois hoje em dia nem as máximas figuras, tanto do toureio a cavalo como a pé, em algumas corridas não enchem. Por isso acho que não significa que não levamos público às praças. À vista está que, quando nas datas importantes e cartéis rematados, o público responde. Temos o exemplo este ano do Redondo e do Campo Pequeno.
- Acha que já alcançou o patamar que seu pai tinha alcançado com a sua idade, ou ainda falta uma larga caminhada para “lhe chegar aos calcanhares”?
- Acho que isso nem sequer vou pôr  em questão, pois o meu pai foi um revolucionário que, a meu ver, não tenho tempo nem capacidade suficiente para lhe chegar aos calcanhares. Mas trabalho dia-a-dia para tentar honrar tudo o que ele é no toureio.
- Ser filho do Maestro Moura, o que motivará sempre os aficionados a fazer comparações, ainda é hoje uma dificuldade para si?
- Já foi, sim. Mas hoje em dia eu penso que tenho o meu cunho pessoal e que já não há aquelas comparações como existiam anteriormente. Sinto que as pessoas já me identificam como o João Moura Jr. e não como o filho do João Moura.
- Foi pai no ano passado. Isso mudou a sua vida?
- Totalmente. A Conchita é o melhor que a vida me deu e tem-nos trazido uma felicidade inigualável. Ela é o início de uma família em que, se Deus quiser, será o meu maior apoio e sobretudo é o que mais me motiva para viver a minha profissão dia após dia.
- Depois do triunfo no Campo Pequeno, vem a corrida de Alter no próximo dia 25 e depois o regresso a Madrid, a 12 de Maio. Dois desafios decisivos. Como os encara? 
- São sem dúvida dois compromissos diferentes mas cada um com a sua importância. A corrida de Alter é sempre uma das corridas que marcam a temporada e Madrid é a que sonho dia após dia, triunfar para poder alcançar o estatuto que quero. Madrid é a praça que mais dá, mas também é a que mais tira, por isso encaro sempre Madrid com o maior respeito.
- Também estará nas Sanjoaninas, na Ilha Terceira e regressa a Lisboa a 7 de Junho na noite de comemoração dos 40 anos de alternativa de seu pai, que será certamente uma noite especial. Fale-me também desses compromissos.
- Depois de triunfar o ano passado nas corridas das Festas da Praia da Vitória e também na Graciosa, para mim é muito importante estar este ano nas Sanjoaninas e se Deus quiser repetir o triunfo. A corrida em Lisboa dos 40 anos de alternativa do meu pai é, sem dúvida, a mais especial da temporada e também aquela onde que mais me motiva triunfar. Entre nós parece que há sempre mais rivalidade… (risos).
- Considera-se, como alguns críticos o referenciam, o melhor cavaleiro da nova vaga?
- Acho que isso não me compete a mim referenciar. Mas sim, considero-me um dos melhores e é para isso que trabalho todos os dias. Sei que falta muito para me sentir realizado como toureiro e estou seguro que vou conseguir chegar ao sítio que quero, que é ser figura do toureio mundial
- Superstições, tem?
- Por acaso não sou nada supersticioso (risos).
- Costuma ler o que os críticos tauromáquicos escrevem das suas actuações?
- Sim, sempre, tirando um ou outro crítico que nem sequer vale a pena ler, porque por muito grande que seja o triunfo tentam sempre tirar importância. Dou o exemplo de um crítico ter feito uma crónica da última corrida do Campo Pequeno, em que dava mais importância a um cavaleiro que estava na bancada, que aos próprios cavaleiros que actuávamos nesse dia. Sinceramente acho uma falta de respeito por todos os actuantes…
- Que diferenças e que semelhanças existem entre João Moura Jr. e Miguel Moura?
- Bebemos  os dois da mesma fonte, mas cada um tem o seu estilo e cunho pessoal. E acho muito bom sermos assim.
- Que estrela televisiva convidaria para um jantar a dois? E porquê?
- José Mourinho. Admiro-o muito como profissional. E temos em comum um único objetivo que é ganhar e ser o melhor!
- Os mais perigosos anti-taurinos estão dentro da Festa?…
-  Infelizmente sim, existem vários casos de alguns empresários e críticos que tem prejudicado a Festa tanto ou mais que os anti-taurinos…
- Qual é o melhor cavalo de toureio da actualidade? E que cavalo (de outro toureiro) gostaria de ter na sua quadra?
- O “Brindis”, da quadra de Pablo e Guillermo Hermoso de Mendoza. Gostaria de ter na minha quadra o cavalo “Equador” do cavaleiro João Ribeiro Telles.
- Como é o seu dia-a-dia? E como é o João Moura Jr. fora das arenas?
- O meu dia dia é baseado em montar e também acompanhar a exploração ganadeira. Fora das arenas,  adoro estar com a minha família e amigos e também tenho uma paixão pela caça, a maior.
- Se não fosse toureiro…
- Seria Veterinário.
- Com quem gostaria de tourear um mano-a-mano?
- Com Pablo Hermoso de Mendoza!
- Alcançou no toureio todos os seus sonhos? O que falta para se sentir realizado?
- Claro que não. Sou ambicioso e trabalho todos os dias para  aperfeiçoar  ao máximo o meu toureio. Também um dos meus maiores sonhos é trasmitir a um filho meu tudo o que sei, tal como o meu pai me transmitiu.
- Quem é o melhor empresário taurino português? E o pior?…
- Na minha opinião, hoje em dia o melhor empresário taurino é sem dúvida o Rui Bento, tem feito um excelente trabalho  ao longo destes anos à frente do Campo Pequeno. O pior, não vou nomear nomes, mas penso que existem alguns empresários que em pouco têm ajudado a Festa e muitas vezes só a prejudicam.
- E o futuro, João? Que novidades para esta temporada?
- O futuro é tentar crescer, aperfeiçoar e até mesmo modernizar na minha profissão. Pois com tudo isso aparecem as novidades!

Fotos D.R./@João Moura Jr., Frederico Henriques e Florindo Piteira